O Vale da Gente viu nascer os desfiles oficiais das escolas de samba de São Paulo, marcando para sempre o seu nome na história do Carnaval paulistano.
As escolas de samba da cidade de São Paulo surgiram no final da década de 1930 (historiadores consideram a Lavapés, fundada em 1937, a primeira delas), influenciadas pelas escolas do Rio de Janeiro, cujos desfiles passaram a ser transmitidos pela Rádio Nacional. Por décadas, as agremiações paulistanas desfilaram por lugares distintos da capital, concorrendo entre si sob critérios de avaliação difusos, que colocavam escolas, cordões, ranchos e blocos no mesmo balaio.
Nada parecido com os desfiles que conhecemos hoje em dia.
Isso começou a mudar em 1967, quando alguns líderes carnavalescos paulistanos, apoiados pelo radialista Moraes Sarmento, iniciaram uma campanha para oficializar o carnaval paulistano. Esse movimento levou o prefeito José Vicente Faria Lima (carioca da Vila Isabel e apreciador de samba) a sancionar a Lei nº 7.100/67, transformando os desfiles para sempre.
A partir da lei, as escolas de samba de SP passaram a contar com financiamento da Prefeitura e com uma padronização baseada nos moldes de suas equivalentes cariocas, mais antigas e estabelecidas, com quesitos de avaliação bem demarcados. Termos como “comissão de frente”, “mestre-sala e porta-bandeira" e “ala das baianas” entraram rapidamente para o vocabulário dos foliões paulistanos.
Outra mudança fundamental: as escolas se exibiriam num desfile único. É aí que o Vale entra na história.
No ano seguinte, ocorreu o primeiro desfile oficial de escolas de samba na cidade de São Paulo, no Vale do Anhangabaú. Com arquibancadas (sem cobranças de ingressos) e iluminação especialmente elaboradas para a passagem das agremiações, o Vale da Gente tornou-se o primeiro sambódromo de SP, mesmo que esse nome nem existisse na época.
A Nenê de Vila Matilde foi a grande campeã desse desfile inaugural, com o enredo "Vendaval Maravilhoso", uma homenagem ao poeta Castro Alves. Durante o período em que os desfiles aconteceram no Vale, a Nenê viveu uma hegemonia na disputa pelo título, com direito a dois tricampeonatos.
A soma do amor da população pelo samba, da gratuidade dos ingressos e da beleza das escolas fizeram dos desfiles um sucesso absoluto. Com o público crescendo a cada ano, foi necessário encontrar uma avenida propriamente dita. Assim, em 1977, a Avenida Tiradentes passou a ser o palco para o brilho das agremiações paulistanas, com arquibancadas para 30 mil pessoas.
Depois disso, o Vale seguiu em sua tradição de ser cenário de aglomerações felizes e de manifestações populares. Uma tradição mantida e fortalecida pelo Novo Anhangabaú.
.jpeg)
