Além de ser considerado por muitos o maior capoeirista de todos os tempos, ele ajudou a solidificar a presença dessa arte marcial/dança na cultura brasileira.
A história da capoeira é rica e complexa, refletindo a cultura e as lutas sociais do Brasil. Ela tem origens profundamente enraizadas nas tradições africanas trazidas para o país durante o período colonial pelos povos escravizados. Para resistir à opressão e manter viva a sua cultura, esses africanos desenvolveram formas de luta e dança que, com o decorrer dos tempos, evoluíram para o que conhecemos hoje como capoeira.
Desde seu início, a prática da capoeira era mal vista pelos “senhores”, que percebiam a atividade como o que, de fato, era: um ato de resistência. Justamente por isso, era frequentemente praticada de maneira disfarçada, incorporando música, dança e movimentos acrobáticos que a distanciavam de uma arte marcial.
Com a abolição da escravidão institucionalizada, a caporeira – juntamente com diversas manifestações de origem africana – passou a ser criminalizada, perseguida e vista como “vadiagem” punível com prisão. Ainda assim, seguiu sendo praticada às margens da lei, por gente disposta a enfrentar o peso do Estado para garantir a sobrevivência de sua ancestralidade.
É nesse período de clandestinidade que surge Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, para transformar a capoeira para sempre. Considerado por muitos o maior capoeirista de todos os tempos, Mestre Bimba desenvolveu, nos anos 1920, em Salvador, uma doutrina que trabalhava a “esportivização” da capoeira, introduzindo regras, método de ensino e toda uma série de rituais, como batizado, formatura e especialização.
Basicamente, Mestre Bimba aplicou na capoeira conceitos encontrados nas artes marciais consolidadas (e legais) da época, estabeleceu um regramento e manteve o respeito à herança cultural africana. Com essa iniciativa, pode-se dizer que ele “oficializou” a capoeira como um misto de luta e dança, inventando a capoeira moderna.
A iniciativa do aclamado mestre teve papel fundamental no fim da absurda proibição da capoeira. Inicialmente, de maneira velada, batizando seu método como “luta regional baiana”, uma maneira de driblar a legislação, uma vez que era capoeira, mas tinha outro nome. Em paralelo, Mestre Bimba e seus alunos seguiam pressionando os políticos, até que sua “capoeira, mas fala diferente” foi legalizada no estado da Bahia, nos anos 1930.
Ainda na década de 1930, o presidente Getúlio Vargas legalizou a prática da luta regional baiana em todo o país.
Depois de, nas palavras dele, “tirar a capoeira de baixo da pata do boi”, Mestre Bimba seguiu com sua academia (agora com um alvará de funcionamento), ensinando seu método que não demorou a se espalhar para além de Salvador, além de fomentar outras manifestações culturais africanas, como o samba de roda e o maculelê.
Em seus 73 anos de vida, Mestre Bimba viu surgir a capoeira de Angola (assunto para outro dia), viu sua amada arte ser respeitada no mundo inteiro e ouviu, em 1953, da boca do (novamente) presidente Vargas que “a capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.
Aqui, no Novo Anhangabaú, celebramos o legado do Mestre Bimba todas as semanas na nossa atividade de Capoeira e, uma vez por mês, promovemos o Encontro de Capoeira, uma grande reunião de capoeiristas de São Paulo.
Capoeira
Segundas-feiras
20h
Espaço Livre