#GenteDoVale: Catarina Huh

#GenteDoVale: Catarina Huh

6/7/2022

Ela andava de skate no Vale do Anhangabaú no final dos anos 1990. Agora, depois de anos longe do esporte, ela retorna ao Vale para ensinar uma nova geração de skatistas.

Desde muito nova, Catarina Huh nunca se conformou com a ideia de que certas atividades eram “coisa de menino”. Ela sempre adorou o movimento, em uma época que as meninas eram incentivadas a brincadeira mais “tranquilas” que não envolvessem nenhum tipo de atividade física. Com menos de 10 anos, ela já praticava taekwondo mesmo que sua mãe não fosse exatamente a favor.

Catarina Huh – Arquivo pessoal
“Eu sempre fui de subir em árvore, de jogar bola, de fazer coisas que não eram ‘apropriadas’ para uma menina. Quando o skate entrou na minha vida, o pessoal olhava torto, mas não era nada diferente do eu tinha visto a vida inteira.”

No aniversário de 16 anos, Catarina ganhou seu primeiro skate. Seus colegas de escola sabiam de sua vontade de começar no esporte, então fizeram uma vaquinha para dar um shape de presente. Daí em diante, foram 6 anos quase inteiramente dedicados ao carrinho, com sessions diárias, campeonatos e um verdadeiro mergulho na cultura skate.

“Em 1998, 1999, eu andava muito no Vale do Anhangabaú. A gente era um grupo de 5, 6 pessoas e, para variar, eu era a única menina no meio dos caras.”

Foi nessa época que, com 19 anos, Catarina entrou na faculdade de Esporte na USP. No curso, ela começou a perceber como o skate era meio que improvisado como prática esportiva. Enquanto outras modalidades trabalhavam com metodologias de treinamento, alimentação e consciência corporal, ainda funcionava no esquema “sobe no carrinho e vai”.

“Enquanto outros esportes usavam ciência pra ganhar milésimos de segundos, o pessoal do skate comia cachorro-quente antes de disputa de mundial.”

A rotina de estudo acabou afastando Catarina da prática diária do skate, que passou a ser mais uma “brincadeira” de final de semana por muitos anos.

“O skate exige um controle motor fino, se você não pratica todo dia, acaba ficando meio estagnado a repetir só o que você já sabe fazer, não consegue aprender novas manobras.”

Isso começou a mudar em 2018, muito graças aos filhos Yohan e Lukhan. Os pequenos, que, na época, tinham 1 e 3 anos, demonstraram interesse por aquela tábua com rodinhas da mamãe. Mas o que fazer para ensinar crianças que mal tinham aprendido a andar com as próprias pernas a andar de skate? Catarina sabia exatamente o que fazer.

“Eu sempre quis implementar ao skate tudo que aprendi na faculdade sobre equilíbrio, consciência corporal e movimento. Assim, criei um método para ensinar os meninos, que também me ajudaria a retomar o skate com mais profundidade.”

Foi a partir das “aulas” para seus meninos que Catarina passou a utilizar seus conhecimentos em disciplinas esportivas de uma forma especificamente voltada ao skate. Em paralelo, ela mesma utilizou de seu método para aprimorar sua técnica, depois de anos longe do treinamento diário com o carrinho. O passo seguinte foi testar sua metodologia com amigos, gente que nunca tinha subido num skate. E foi um sucesso!

“Eu elaborei uma aula que vai bem além do esquema ‘sobe no shape e vai’. Trabalhamos o movimento por etapas, aprendendo cada fase, até que se torne natural. Desenvolver o equilíbrio e ensinar o aluno a cair, são maneiras super eficientes de ensinar a andar de skate.”

Catarina Huh de volta ao Vale

Agora, Catarina Huh está de volta ao Vale, trazendo seu método que transforma iniciantes em skatistas da maneira mais segura e inteligente, mas que não se resume a isso. Mesmo quem não busca aprender a andar de skate pode se beneficiar, adquirindo consciência de seu próprio corpo, descobrindo novas potencialidades.

“Para mim, o skate não é a finalidade, é um meio. Através do skate, qualquer um pode desenvolver o equilíbrio, entender melhor o movimento, soltar o corpo de um modo geral. Se a pessoa quiser ser skatista, ótimo. Se não quiser, tudo bem também.”

E você também está convidado a aprender a andar de skate com quem realmente entende, mergulhar nessa cultura e até criar suas próprias manobras, quem sabe? Ou você pode “só” conhecer melhor seu corpo, desbloqueando novas possibilidades de movimento. Não importa o motivo, não importa a idade, você vai sair melhor do que entrou.

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