De mídia publicitária a item de decoração, passando por forma de protesto, o lambe-lambe já teve diversas funções sociais. Conheça essa rica história.
Idos do século XIX, na Europa, a possibilidade da impressão em escala industrial revolucionou a vida em sociedade. De repente, o acesso a livros não era mais uma exclusividade dos mais abastados, acadêmicos e/ou membros do clero. Em paralelo, cartazes impressos começaram a pipocar nos muros e paredes das grandes cidades europeias, anunciando todo tipo de espetáculo, evento e produto. Nascia o lambe-lambe.
O nome vem da forma de fixação dos cartazes, que eram “lambidos” com generosas pinceladas de uma cola a base de água e farinha.
No Brasil, os posters lambe-lambe foram introduzidos por imigrantes europeus, no final do século XIX. Logo se tornaram uma parte integrante da paisagem urbana, especialmente nas grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo.
Enquanto isso, em Paris, cartazes criados pelo artista Alphonse Mucha transformaram o modo de produção dos lambe-lambes. Seu cuidado com a ilustração e a tipografia trouxeram um novo padrão estético para tipo de publicidade, dando origem ao movimento art nouveau e servindo como uma espécie de célula mater do design gráfico como hoje conhecemos.
Durante a primeira metade do século XX, os lambe-lambes eram uma das principais formas de publicidade de rua, mas, com o tempo, a publicidade impressa e os meios de comunicação evoluíram, fazendo com que o lambe-lambe perdesse espaço para outras formas de divulgação. Bom, pelo menos no que diz respeito a grandes marcas e eventos, para a produção independente, seguiu sendo uma forma viável de ganhar visibilidade.
A partir da 2ª Guerra Mundial, os lambe-lambes ganharam conotação política e de resistência ao nazifascismo na Europa, com maior destaque para o icônico “Keep Calm and Carry On” britânico. Além disso, os cartazes lambe-lambe foram ressignificados por movimentos sociais e artistas ao redor do mundo, assumindo um caráter de crítica social e política.
Em meados dos anos 1970, um novo movimento artístico propunha um lambe-lambe de expressão artística pura, simplesmente como um meio de exposição ao público, sem vender nenhum produto, ideologia ou mensagem. Deste momento histórico em diante, a técnica do lambe-lambe perdeu qualquer tipo de amarra. Ao mesmo tempo em que manteve suas características publicitárias, virou sinônimo de contracultura urbana, expressão artística e até decoração.
Lambe-lambe no Vale da Gente
É desse caldo histórico-cultural que surge o trabalho de Jonatha Cruz, que chega ao Novo Anhangabaú em setembro. Artista multidisciplinar, Jonatha busca, através da linguagem sonora, visual e corporal, a construção de um imaginário genuinamente brasileiro. Com formação mista em teatro, fotografia, artes visuais e audiovisual, transita por diversos suportes, realizando projetos que valorizam a cultura afro-brasileira, nortista, nordestina e indígena, buscando captar a beleza do cotidiano.
Lambe-lambe
Sexta-feira, 22 de setembro
15h
Espaço Livre