A história do grafite – Parte I

A história do grafite – Parte I

28/7/2022

Das cavernas ao movimento hip hop, a arte em espaços públicos sempre foi uma crônica de seu tempo. Aqui, no Novo Anhangabaú, você pode aprender sobre a história e os conceitos do grafite, além de fazer seus primeiros traços nessa arte, todas as terças, às 19h.

Período Paleolítico. Os primeiros humanos viviam em tribos nômades, como caçadores e coletores. Todo o pessoal da tribo se dedicava exclusivamente a se manter vivo, enfrentando as feras, as intempéries do clima e a insegurança alimentar. Bom, todo mundo menos o diferentão que pintava imagens do dia a dia nas paredes da caverna. Nascia o grafite.

E já nasceu com uma de suas principais características: ser uma forma de retratar a realidade de uma época. Muito do que sabemos hoje sobre as populações humanas pré-históricas foi aprendido por meio das pinturas rupestres.

O grafite das cavernas é fonte de informação sobre o cotidiano de nossos antepassados

A palavra grafite vem do italiano graffito (no plural, graffiti), que se origina no latim e significa algo como “escrita a carvão”, “rabisco”. E foi justamente na Roma Antiga que essa arte viveu um de seus momentos de maior impacto social. Somente na cidade de Pompéia, arqueólogos encontraram mais de 10 mil grafites, preservados muito graças à catástrofe que se abateu sobre a cidade.

“Viva quem ama, morra quem não sabe amar! Morra duas vezes mais quem proíbe o amor!”
Grafite de Pompéia

O conteúdo do grafite romano era bem variado, navegando por imagens eróticas, mensagens de amor, ameaças, poesia, reclamações em geral, trechos de obras literárias… Se, na época, muitas das inscrições e desenhos eram pra lá de banais, nos dias de hoje, servem como um retrato único daquela civilização, do ponto de vista da população mais pobre, uma outra visão da “história oficial” contada pelas elites.

“Marcelo ama Prenestina e não é correspondido.”
Dor de cotovelo explícita encontrada nas paredes de Pompéia

E é claro que, em se tratando da Roma Antiga, a política não podia deixar de marcar as paredes do império. De mensagens de apoio, deixadas por militantes, a críticas escrachadas a governantes e candidatos, os cidadãos romanos se deparavam diariamente com uma verdadeira crônica política estampada em espaços públicos, quase um jornal extraoficial.

Caricatura de Nero, encontrada no Palácio Tiberiano

Esse tipo de grafite tinha uma vertente que prova que fenômenos que consideremos super contemporâneos, já rolavam direto no Império Romano. Estudiosos afirmam que boa parte dos graffiti romanos de cunho político, na verdade, não passa de fake news! Não muito diferente do que vemos nas redes sociais, apoiadores (ou o próprio político) grafitavam narrativas mentirosas (e, não raro, estapafúrdias) sobre seus adversários.

“O sindicato dos ladrões e das prostitutas apoia o ‘tal’ candidato.”
Fake news de época encontrada em parede romana

Como todo muralismo urbano underground que se preze, os graffiti da Roma Antiga dividiam opiniões. Enquanto parte dos romanos se divertia e se informava com as inscrições e desenhos, parte da população geral e dos intelectuais criticavam a prática, não pelo “vandalismo” (um conceito que não existia nesse período histórico), mas pelo “pensamento simplório”, nas palavras do filósofo Plutarco. Curiosamente, uma evidência desse pensamento contrário ao grafite aparece justamente em palavras marcadas num muro de Pompéia:

“Me admiro, parede, que você não tenha desabado, tendo que aguentar tantas bobagens escritas sobre você”.

Outra civilização antiga conhecida pelo muralismo é a egípcia. Mas os historiadores não consideram os hieróglifos parte da categoria grafite, por terem um caráter oficial, passando longe de ser uma expressão alternativa.

Na segunda parte desta matéria, vamos contar um pouco do grafite moderno, de sua origem très français e de seu ápice através do hip hop. Aguarde…

Vem aprender a grafitar no Vale da Gente

Enquanto isso, você pode aprender sobre a cultura grafite e ver o processo acontecendo, aqui, no Novo Anhangabaú. Anota aí:

Cultura do Grafite

Terças-feiras

19h

Palco Chá – Terra de Todos

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