Um jogo lendário

Um jogo lendário

16/2/2024

Conheça a saborosa lenda indiana sobre a origem do esporte mais cerebral do mundo.

O xadrez vem fazendo parte da programação mensal do Novo Anhangabaú desde o início de suas atividades. Para comemorar esse feito, vamos contar uma das muitas histórias mitológicas sobre a origem do esporte. Raciocínio lógico, cálculo, estratégia e uma certa dose de esperteza são a essência do xadrez e a lenda indiana sobre seu surgimento tem um pouco de tudo isso, com uma pimentinha do humor típico dos contos folclóricos.

Era uma vez um poderoso rajá, chamado Sheram, que passava por um momento especialmente triste de sua vida. O governante hindu vivia o luto da perda de um filho, quando soube da existência de um novo jogo, criado por um de seus servos, o sacerdote brâmane Sessa ibn Daher. Buscando uma distração para sua dor, o rajá convoca o inventor para lhe apresentar a novidade.

E assim foi. Não demorou e o monarca se viu diante de um sacerdote/matemático humilde, maltrapilho, que vivia de doações da comunidade. Sessa mostrou ao rajá o jogo que tinha elaborado, uma disputa de tabuleiro que servia como uma analogia às guerras de conquista, com peças que representavam a infantaria (os peões), a cavalaria (os cavalos), os elefantes de guerra indianos (que se tornariam as torres), os vizires (bispos) e os governantes (rei e rainha).

O rajá, então, se pôs a jogar com o brâmane. O intrincado jogo exigia tanto de sua atenção, que, quando se deu conta, o regente não estava mais com o pensamento na morte de seu filho. Sua felicidade com isso foi tamanha que ele sentiu-se obrigado a recompensar seu servo por ter criado algo capaz de afastá-lo da melancolia, deixando claro que dinheiro não seria problema.

Como pagamento, Sessa pediu que o rajá lhe desse um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro, dois grãos pela segunda casa, quatro pela terceira, oito pela quarta e assim por diante, sempre dobrando o valor da casa anterior, até que as 64 casas do tabuleiro fossem contempladas.

O rajá ficou até meio ofendido com o pedido simplório do inventor, mas aceitou o orçamento, respondendo algo como:

– Ora, mas é para já! Matemáticos reais, façam as contas e providenciem o pagamento do rapaz.

Os matemáticos obedeceram prontamente e, algum tempo depois (bem mais do que o rajá esperava), um de seus vizires o procurou e decretou:

– Não vai rolar pagar o cara.

Depois de fechar a conta e passar a régua na solicitação de Sessa, chegou-se à conclusão que seriam necessários 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo para quitar a dívida assumida pelo soberano.

– Oi? – Indagou o rajá, ao ler o número num pergaminho. – Me fala isso por extenso, pelo amor de Ganesha!

O vizir atendeu:

– Dezoito quintilhões, quatrocentos e quarenta e seis quatrilhões, setecentos e quarenta e quatro trilhões, setenta e três bilhões, setecentos e nove milhões, quinhentos e cinquenta e um mil e seiscentos e quinze grãos de trigo.

Nem toda toda produção de trigo do mundo seria suficiente para bancar a promessa do governante. Na verdade, levaria cerca de 2 mil anos para chegar a esse número astronômico!

Depois do choque inicial, Sheram ficou encantado com a sagacidade de Sessa e imaginou que seria interessante manter um sujeito tão inteligente por perto. O brâmane foi convidado a se tornar conselheiro do rajá – e a perdoar a dívida impagável. Ele topou, ganhou o cargo e todos foram felizes pelo tempo de vida médio de um ser humano da época.

Como toda boa lenda, essa tem uma moral: cuidado para não fazer promessas que não se pode cumprir. Como ensinamento paralelo, Sessa nos mostra o que é um verdadeiro crescimento exponencial para que nunca mais usemos o termo de forma equivocada.

Os discípulos de Sessa ibn Daher se encontram no Vale da Gente

Você também pode chamá-los de enxadristas ou curiosos do esporte. Gente de todas as idades, de crianças a idosos, que quer praticar ou conhecer o xadrez no Novo Anhangabaú, totalmente de graça, sem nenhum grão de trigo (ou dinheiro) envolvido! E você também está convidado:

Xadrez

Domingos

15h

Espaço Livre

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